OS CRISTÃOS E HALLOWEEN

NÃO DAR BRECHAS AOS DEMÔNIOS É NÃO INVOCÁ-LOS DE NENHUM MODO

The Temptation of Christ Ary Scheffer, 1854
The Temptation of Christ
Ary Scheffer, 1854

Ao consultar as obras de diversos exorcitas, entre eles Pe. Gabriele Amorth, Pe. Antônio Fortéa, Pe. Francesco Bamonte e Pe. Antonio La Grua podemos sim constatar que determinadas celebrações de origem pagã por mais inocentes que pareçam podem acabar abrindo brechas a ação dos espíritos malignos – os demônios – onde alguns casos culminam com a possessão demoníaca por parte daqueles que participaram de tais celebrações – sobretudo se estão totalmente fora da graça de Deus. E sobre esta triste realidade da opressão do demônio na vida das pessoas escreveu recentemente o Papa Francisco aos exorcistas reunidos em Roma: “O amor e o acolhimento da Igreja àqueles que sofrem por causa da obra do maligno”: esta é a primeira tarefa que os exorcistas são chamados a desempenhar “no particular ministério exercido em comunhão com os seus bispos”. Na ocasião o tema tratado pelos mais de 300 padres exorcistas do mundo inteiro foi justamente “a difusão e as consequências do ocultismo, do satanismo e do esoterismo, especialmente entre os jovens” (zenir.org).

DE ONDE VEM E O QUE SIGNIFICA ‘HALLOWEEN’?

Festa de origem pagã celta. A religião druida acreditava que neste dia os mortos voltassem à terra durante a noite – último dia do ano em seu calendário, no nosso calendário cristão, 31 de outubro. Os mortos queriam duas coisas: alimentar-se dos frutos das colheitas e assustar as pessoas. Acreditavam juntamente ao aparecimento de bruxas, ou seja, mulheres que acreditavam ter relações com os demônios e faziam muito mal às pessoas, gados, etc.

Com isso, os Celtas costumavam se vestir com máscaras assustadoras para afastar os espíritos e as bruxas. Esse episódio era conhecido como o “Samhaim”. Com o passar do tempo, os cristãos chegaram à Grã-Bretanha, converteram os Celtas, especialmente com o trabalho de São Patrício no século IV e São Columbano no século VI. Com isso, a Igreja Católica transformou este ritual pagão em uma festa religiosa. Ela passou a ser celebrada nesta mesma época e, ao invés de honrar espíritos e forças ocultas, o povo recém-catequizado deveria honrar os santos. Daí veio o “All Hallows Day”: o dia de Todos os Santos.

A tradição entre estes povos continuou e, além de celebrarem o dia de Todos os Santos, eles celebravam também a noite da véspera do dia de Todos os Santos com as máscaras assustadoras e com a comida. A noite era chamada de “All Hallows Evening”, abreviando-se, veio o Halloween.

Vemos assim que a tradição de comemorar as bruxas ou outros espíritos não é cristã e deve ser evitada, ainda que tenha apenas uma conotação folclórica. Devemos, sim, celebrar o dia de todos os Santos.

As informações desta parte foram retiradas da revista de Dom Estevão Bettencourt (PR n.464/2001, pág.47s).

POR UMA CULTURA DE TODOS OS SANTOS

Desafie sua escola a promover a Festa de Todos os Santos e veja o que responderão! Certamente o mesmo pressuposto que alegarão não valerá em se tratando da legítima e histórica cultura cristã sobre a qual está alicerçada a história do Brasil. É uma via de mão única: devemos respeitar os outros, mas não respeitam nossa história e cultura. Portanto, senhores pais orientem seus filhos! Queridas crianças, adolescente e jovens procurem dar testemunho cristão, não aderindo à práticas e por vezes até mesmo a dissimulados rituais pagãos. Senhores professores cristãos, catequistas e demais lideranças cristãs, vamos orientar e esclarecer as consciências. Esta é nossa missão!

Deus abençoe a todos!

A absurdidade dos atos da parada gay

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No último domingo dia 07 de junho, na capital paulista, mais precisamente na Avenida Paulista, realizou-se a já conhecida parada gay. Na ocasião vieram a público o uso desrespeitoso de símbolos cristãos, na ocasião cruzes e imagens de Nossa Senhora usados como tapa sexo e, no carro principal, uma pessoa fazendo clara alusão ao Cristo Crucificado. Sobre a cruz ao invés encontrava-se uma placa com a sigla do movimento ali representado. As imagens são fortes, mas falam por si mesmas. E, sem dúvida alguma, despertaram a indignação de cristãos e pessoas de boa vontade pelo país afora. E mais uma vez os partidários de atos como estes acusam os cristãos, os políticos e o país de conservador, preconceituoso, despreparado para lidar com questões como estas, homofóbicos, etc.

Os “interpretes” da Parada Gay

Sempre diante de um fato podem ocorrer diversas interpretações, principalmente tratando-se de uma polêmica divisora de ânimos como foi o caso dos atos realizados na última parada gay na Av. Paulista em São Paulo. O choque e a perplexidade dos cristãos e mesmo de pessoas de outras religiões pelo Brasil afora se percebeu nitidamente, sobretudo pelas redes sociais. Não obstante houve também alguns que se dissessem cristãos que se arvoraram a “interpretar” os fatos – não se sabe bem se a modo de relativizar ainda mais a fé cristã ou legislar em “causa própria”. A verdade é que, mesmo que um fato possa ser interpretado, ele é um fato, ou seja, é visto a olhos nus, há provas contundentes do mesmo. Deste modo, não obstante os fatos (as fotos que circulam pela internet dão testemunho) há quem tente interpretá-los de forma branda e quase a repreender aqueles que encararam diferentemente, ou seja, como uma nítida ofensa à religião manifestando assim seu descontentamento.

Muito bonito mesmo comparar a situação de Cristo Senhor, morto na cruz do calvário à situação de discriminação do grupo organizador da marcha gay. Nos tempos da ditadura do politicamente correto esta aspiração vem mesmo ao encontro da hipocrisia debaixo da qual nossa sociedade vive. Hipocrisia esta que se revela imediatamente ao invertermos a mão de tal raciocínio, ou seja: comparar os atos do grupo organizador da marcha aos de Cristo Senhor. De modo que é completamente hipocrisia usar de uma imagem, se diga do cerne da fé cristã, se não se compactua com o que ela comunica integralmente, se se rejeita a mesma, se não se deseja por nada vivê-la.

Com isso localizamos o ponto cardine do total desrespeito e afronta à fé cristã. Para interpretar positivamente tal ato seria necessário que houvesse o mínimo de interesse dos manifestantes também em viver o que Cristo ensinou e na sua integralidade, sem cortes, sem jogo de interesses, sem censuras. E, sabemos bem que começando pela Bíblia, os organizadores de atos radicais como os que vimos ultimamente, rejeitam a tudo que possa fazer frente aos seus interesses, que não se detém na luta contra a discriminação ou a integração social, mas ultrapassam os limites da liberdade e querem inclusive impor o modo de vida que escolheram para si a todos.

Uma pequena reflexão: na quinta-feira que precedeu a marcha gay, foi dia de Corpus Christi, uma solenidade altíssima para os católicos. Milhões e milhões de pessoas foram às ruas em todas as paróquias do país para testemunhar sua fé publicamente. Também no mesmo domingo da marcha gay, os protestantes fizeram em diversas regiões do país sua marcha para Jesus. Ambas as concentrações de fiéis católicos e protestantes ocorreram sem maiores manifestações de perturbação à ordem pública, ou seja, em paz.

Suponhamos que por um momento de insanidade, num destes atos, alguém decidisse queimar ou pisar a bandeira do movimento organizador da marcha gay; qual seria a reação pelo país afora? Então os cristãos tem que ficar quietos e passivos diante do vilipêndio de sinais da sua fé? Por que, caso contrário, são fundamentalistas, discriminadores e, usando a palavra da moda, homofóbicos?

E por que não mostram o verdadeiro pensamento da Igreja Católica?

A fé cristã tem sofrido um duro ataque dos movimentos revolucionários nos últimos tempos. É importante, antes de discorrer sobre este aspecto, que está intimamente ligada à natureza da Igreja a perseguição. A Igreja é perseguida. Esta é uma consequência lógica de sua fidelidade ao seu Divino Fundador. Por uma razão muito óbvia: muitos querem os bônus de Cristo, mas não estão dispostos a aceitar os mandamentos de Cristo. E não é possível seguir Cristo sem a cruz de Cristo – a verdadeira cruz, não a do oportunismo da marcha gay.

Nunca será possível então a um autentico cristão vilipendiar expropriar a cruz de Cristo do seu inteiro contexto: renúncia ao pecado e busca de santidade de vida. Daí derivam os mais profundos sentimentos e comportamentos cristãos. Acusar a fé cristã de intolerante e homofóbica é, portanto prestar um atestado público de ignorância não só religiosa, mas dos próprios fatos. Além do que manifestar uma clara rejeição aos princípios mais fundamentais desta fé. Os cristãos, católicos ou protestantes, não deveriam temer os ataques do inteiro movimento revolucionário, muitos menos colocar em dúvida e própria fé. Estes ataques são um testemunho, ainda que contrário, de que estamos no caminho certo.

Perguntemo-nos se já vimos algum padre atacando violentamente um homossexual ou qualquer outro tipo de pessoa, ainda que seja num sermão dominical. Perguntemos onde está algum documento da Igreja Católica que discrimine abertamente a este ou aquele grupo. Podemos até ir um pouco além, vejamos se na imensa rede de comunidades cristãs pelo Brasil e pelo mundo afora exista algum grupo que se dedique ao que estes movimentos revolucionários nos acusam: preconceito, discriminação e homofobia. Muito pelo contrário, vamos encontrar caridade de peso e verdadeira promoção da dignidade humana à quem quer que seja.

E por que então somos acusados de intolerantes e homofóbicos? A resposta não pode ser outra: eles não estão dispostos a carregar a verdadeira cruz conosco. Eles não querem viver o que nós cremos. Eles rejeitam as verdades de fé que lhes incômoda, por lhes jogar luz sobre as consciências. Aqui gostaria de dar espaço às palavras da própria Igreja em relação ao que falamos – o que a Igreja propõe àqueles que na condição homossexual desejam seguir o Cristo (Catecismo da Igreja Católica §§ 2357-59)

A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atração sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua gênese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves a Tradição sempre declarou que «os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados». São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.

Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição.

As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.

 

A doutrina da Igreja não usa meio termo. O Evangelho não usa meio termo. A Cruz de Cristo não tolera meio termo. E, para os movimentos revolucionários de modo especial, palavras como estas que acabamos de ver, pela sua verdade e caridade, são um soco na boca do estômago. São vinculantes enquanto verdade natural e revelada. Mas são igualmente propostas diante da liberdade humana. E pelas próprias palavras que acabamos de ver podemos perguntar: o que tem de discriminatórias e homofobias? Que tipo de mal reverterão para o ser humano que em sua sagrada liberdade e sabedoria humana desejá-las por em prática?

O esforço em desejar viver o Evangelho não faz de nós cristãos melhores que ninguém, muito pelo contrário, diante o Evangelho nossa responsabilidade torna-se ainda maior. E não dá o direito a quem quer que seja pelo motivo que seja de expropriar a nossa fé do seu real significado. Em outras palavras, se eles marcham pelo respeito, eles precisam ser os primeiros a dar exemplo. E se atacam tanto os cristãos é porque há algo muito forte e significativo na fé que professamos contra a qual eles se debatem em sua marcha como contra um forte baluarte. E o próprio ato de debater-se contra este baluarte já é uma prova de sua incoerência e da fraqueza do argumento ao qual recorrem. Do contrário não ficavam ano após ano, evento após evento procurando uma forma de chamar a atenção para si, sobretudo da mídia, utilizando-se desrespeitosamente dos sinais da fé cristã como tem sido feito.

Como conquistar e conservar a pureza do coração

“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8)

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Estamos em um mês muito propício para falar das coisas do coração: é o mês do Sagrado Coração de Jesus. É também o mês de Corpus Christi – o Senhor quis permanecer conosco todos os dias até o fim dos tempos no Santíssimo Sacramento do Altar. Eis a grande prova do amor do Coração de Jesus por nós.

Nós somos chamados a ser imitadores do Coração de Jesus, e só progrediremos nesta graça da semelhança com Cristo à medida em que permanecermos nEle e cuidarmos portanto do nosso coração, sobretudo pela virtude da pureza. Deste modo gostaria de compartilhar com você 10 pontos essenciais para cultivar e conservar a pureza do coração.

1 – Cuidado com o que sai da sua boca! Vigie o que você anda falando! O termômetro do coração é o que sai pela boca, pois “a boca fala daquilo que o coração está cheio” (Mt 12,33-34). Piadas, palavrões, sensualidade na fala, duplo sentido nas palavras, fofocas e julgamentos não devem fazer parte da fala de um cristão.

2 – Vigie o seu olhar! “A luz do corpo são os olhos. Por isso, se o teu olhar for bom, todo o teu corpo tem luz.  Mas se o teu olhar for mau, todo o teu corpo fica às escuras. Ora se a luz que há em ti não passa de escuridão, que grande será essa escuridão!”  (Mt 6,22-23). Se o que sai pela boca é termômetro do que está no coração, o que entra pelos olhos determina o estado do coração.

3 – Selecione o que entra pelos seus ouvidos! A audição é outro sentido que determina o estado do coração. Veja o que diz a Sagrada Escritura: “Meu filho, se aceitares as minhas palavras e seguires com vontade os meus preceitos, com os teus ouvidos atentos à sabedoria e o teu coração aberto para o entendimento (…) então compreenderás como se deve honrar o Senhor e chegarás ao conhecimento de Deus” (Pr 2,1-5). “O malfeitor dá ouvidos às palavras perversas; o mentiroso escuta a lingual má” (Pr 17,4). Portanto, tenha muita atenção com determinados tipos de músicas, com as más notícias e a participação na maledicência de outros.

4 – Selecione suas amizades. Seja criterioso! “Se as más companhias te quiserem seduzir, não lhes dês ouvidos, meu filho (…). Meu filho, não vás com gente dessa, afasta-te dos seus maus caminhos, porque eles têm pressa de fazer mal” (Pr 1,8-10.16). Certamente teremos muito mais condições de viver bem, fazer boas escolhas e ter paz se ao nosso redor tivermos pessoas boas e de paz. O mesmo se diga do contrário, as más influências podem sim interferir em determinadas escolhas e tirar a paz. As más influências são enganosas porque são sedutoras.

5 – Faça o firme propósito de dizer coisas que sirvam para edificação das pessoas. “Que nenhuma palavra imprópria saia da vossa boca. Pelo contrário, que as vossas palavras sejam úteis e edificantes, para fazerem bem àqueles que vos ouvem” (Ef 4,29). Vigiar sobre o teor das palavras é fundamental: um cristão não deve dar maus conselhos, proferir maldições ou dizer palavras vazias de sentido. Procure portanto acostumar-se a ser uma pessoa boa, positive, cheia de esperança.

6 – Cuide de dar o melhor de si na família no trabalho, nos estudos, na igreja, no descanso. “As palavras dos sábios difundem saber; a mente dos insensatos está vazia” (Pr 15,7). Já diz o ditado: “Mente vazia é oficina do diabo!” …e certamente não produz coisa boa! Os entulhos dessa oficina ficam acumulados no coração. E seu coração não é um lixão, é templo do Espírito Santo. Cuide de produzir e ajuntar coisas boas.

7 – Não utilize mascaras nos relacionamentos. Fingimento rouba a pureza do coração. Seja sempre uma pessoa educada, elegante e cortês; estas são expressões de beleza interior. Segurança de si, personalidade equilibrada, retidão do caráter são expressões de um coração limpo e bem cuidado.

8 – Evite guardar rancor, remorso, ressentimento, decepções… Estes sentimentos deixam o coração doente e pesado. Busque sempre a cura das feridas da alma. O coração puro é saudável.

9 – Faça uma boa faxina de tudo que é excesso na sua vida. Primeiro externamente, ou seja, as coisas supérfluas que se entulham nos armários: excesso de roupas, calçados, bolsas, etc. e podem servir à outras pessoas e obras de caridade, além de te deixarem mais leves e fazer de você uma pessoa que realmente se preocupa com o próximo. Depois passe para o interior: verifique se o seu coração não é também um “baú de tranqueiras”. Estas tranqueiras interiores podem ser sinais de carência de atenção ou afeto. E você pode descobrir-se uma pessoa amada se desvencilhando de coisas que te prendem para poder olhar para a própria vida com um novo olhar.

10 – E tenha muito cuidado com o “espírito de urubu”.     Se pode escolher ficar com a parte boa da vida, porque ficar com as coisas ruins? Portanto, evite ficar ruminando os episódios ruins e traumáticos do passado: isto é um verdadeiro “refluxo espiritual”! Procure conservar na memória aquilo que te dá esperança e anima.

O segredo para uma vida plena e feliz é vigiar às portas do coração que são os sentidos. É também ter a destreza de escolher ficar com o que é bom: conquistando e conservando a pureza do coração. Que o Sagrado Coração de Jesus te ajude!

            Deus abençoe!

            Pe. Alexandre L. Alessio, CR

            Pároco

O Pórtico da Semana Santa: O que vem depois da Cruz é maior que toda dor

DOMINGO DE RAMOS – Procissão e Missa Solene

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Queridos irmãos, queridas irmãs!

Hoje damos início à Semana Santa, a Septimana Maior, a Semana Pascal, a Grande Semana – como desde muito cedo a chamavam os primeiros cristãos. Porque esta semana é o centro do ano litúrgico. E não somente: O que nela celebramos trata-se do centro e do ápice não só do calendário, mas do universo inteiro: o Mistério Pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo – Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Eis o centro da nossa fé!

O Domingo dos Ramos é assim chamado, pois nele celebramos a Entrada Triunfal de Nosso Senhor em Jerusalém: o Rei Messias toma posse da Sua cidade e do Seu Templo Santo. Realeza e triunfo que não se realizam segundo a lógica humana, mas conforme o projeto de Deus, ao qual – nos disse a segunda leitura – “Jesus foi obediente até a morte e morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou” (Fl 2,8-9). Se a derrota de Adão se deu na árvore do paraíso por causa da desobediência a Deus, a vitória de Jesus – Novo Adão – se dá na Árvore da Cruz pela Sua obediência. Aqui já nos fica bem claro que para chegarmos a vitória, também nós com Cristo e jamais sem ele, o Mistério da Cruz em nossas vidas é uma questão inegociável. Precisamos abraçar a cruz de Nosso Senhor e a nossa de cada dia!

O Domingo dos Ramos é a Porta da Semana Santa, porque nos introduz no Mistério da Realeza de Nosso Senhor. O primeiro Evangelho que lemos na Missa de hoje nos mostra a força da realeza de Cristo: Ele vem montado num jumento e recebido com aclamações messiânicas tiradas dos Salmos: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!” (Mc 11,9-10).

Jesus a diferença dos poderosos deste mundo não vem numa ostensiva montaria, mas montado num jumento, e ainda um jumento que lhe fora emprestado, para ser devoldido em seguida. Com isso nos fica bastante claro, que a diferença dos poderosos deste mundo, Jesus é o Rei Pobre e para os pobres; é o Rei de Paz – junto a Sua humildade chega também a Sua paz –, porque Sua conquista não se dá pelas armas nem pela força, mas somente pela abertura do coração dos que O acolhem. Por isso mesmo Ele dirá a Pilatos – para a confusão dos seu inimigos: O meu reino não é deste mundo! (cf Jo 18,36).

Não obstante a Pobreza e a Paz, o Reino chega com toda sua força. A Entrada em Jerusalém é a força da Palavra Eterna se cumprindo e por isso também razão de aclamações de alegria. Pois dele disse o profeta Zacarias: “Exulta muito, filha de Sião! Grita de alegria, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti: ele é justo e vitorioso, humilde, montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho da jumenta. Ele anunciará a paz às nações. Seu domínio irá de mar a mar” (Zc 9,9-10). Por isso dele também dirá o Apocalipse desvelando o mistério da Sua Segunda Vinda: “Da sua boca sai uma espada afiada” (Ap 19,15). A Palavra que se cumpre, que transforma, mas que também julga. É por isso que a Pobreza e a Paz são distintivos do Triunfo do Reino de Cristo.

Com isso abre-se-nos o Mistério Pascal. Se o primeiro Evangelho acena o triunfo, o segundo mostra a realidade da Cruz. Para não nos deixar esquecer que não há glória sem cruz. Não há vitória sem perseverança. Não há vida plena sem conversão. Deste modo a Palavra da Cruz é a espada afiada que divide até a medula (cf Hb 4,12). É pela cruz que se revelam os verdadeiros discípulos de Cristo, mas também os interesseiros e os inimigos de Cristo.

Notem bem irmãos e irmãs: na entrada triunfal em Jerusalém vemos a multidão que aclama e vibra, mas que em menos de uma semana depois, a mesma escolherá Barrabás enquanto a Jesus gritarão que seja condenado! Diante de Jesus segue-se revelando a verdade dos corações: as autoridades do judeus tramam e desejam Sua morte, O rejeitam, zombam dEle; Pilatos como “bom político” procura agradar mais aos homens que a Deus, procura ouvir mais os brados de uma multidão instrumentalizada, que a própria consciência; os soldados romanos se contentam em cumprir seu ofício e seguir o curso da história: eles também maltratam e zombam do Filho de Deus.

Será que nós também não temos um pouco de tudo isso? Será que não dizemos estar com Cristo, ser pessoas de fé, mas quando precisamos nos posicionar diante das turbulências que vive nossa sociedade não preferimos renegar os ensinamentos do Evangelho? Será que num dia estamos com Cristo buscando suas bênçãos e seus milagres e num outro, quando o escândalo da Cruz se revela diante de nós, não renegamos O renegamos e à Sua Igreja Católica e acabamos buscando nossos próprios interesses – como os chefes do povo? Será que diante de uma situação moral que me cobra um posicionamento imediato e firme eu não prefiro me calar com medo de confrontar a maioria? A verdade não é decidida pela maioria! Será que como os soldados romanos, para eu não ter de me incomodar eu prefiro seguir o curso das coisas me autojustificando dizendo que não tem mais jeito, que os tempos mudaram, é assim e pronto?

O encontro com Cristo é decisivo. Este encontro diz o lado que escolhemos estar: com Cristo até o fim, ou contra Cristo. Diante dEle não é possível permanecer neutro. A neutralidade já é uma decisão! Uma triste decisão.

De outra parte, também esta semana vamos nos encontrar com os discípulos, ainda que amedrontados e perplexos, mas que o seguem; com Simão Cirineu, que carrega a cruz junto com o Salvador; com Verônica que enxuga o seu rosto; com as mulheres pias que batem no peito e choram tamanha atrocidade; com o discípulo amado que segue até os pés da Cruz; com as santas mulheres, entre as quais se destaca a Madalena e brilha reluzente a Santíssima Virgem Maria pelo resplendor de sua fé e de sua obediência a Deus. Irmãos, é deste lado que temos de estar: acompanhando Jesus até o fim. E jamais sem Maria Santíssima. Não é João que sustenta a Santíssima Virgem, é ela que sustenta João e lhe dá o teor de um autêntico discípulo de Cristo. E precisava ser assim: Adão foi derrotado, Cristo vence. Eva fora enganada, Maria desmascara a serpente diante da Árvore Bendita da Cruz e pelos méritos de Cristo, Seu Filho, pisa na cabeça do Diabo, que é definitivamente vencido.

Peçamos a graça de ter Nossa Senhora ao nosso lado nesta Semana Santa e por toda nossa vida, para que não corramos o risco de renegar o Mistério da Cruz em nossa vida, mas que tenhamos com Ela, pelos olhos da fé, a graça de perceber que o que vem depois da Cruz é maior que toda dor.

Louvado seja N. S. J. C.!

Como seu formou a Bíblia

“Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para argumentar, para corrigir, para educar conforme a justiça” (2 Tm 3,16).

monge-copistaAo contrário do que muitos podem pensar, a Bíblia é resultado de um longo processo de compilação histórica dos seus textos e recepção destes a partir do caráter de inspirados.

Todos sabemos que a Revelação Divina ocorre de forma gradativa. Deus comunica seus desígnios e o homem responde à este apelo amoroso de Deus mediante a fé. A fé é algo imprescindível nessa relação; do contrário não seria a Revelação Divina. Podemos usar a linguagem metafórica do pedagogo. Deus é o grande pedagogo que progressivamente deixa-se compreender pelo homem de fé. Estamos falando de todo processo mediante o qual o povo de Israel foi tomando consciência da ação significativa de Deus na sua história. E como esta ação é uma ação divina na história, as gerações futuras também são destinatárias. Assim caracteriza-se o processo de transmissão oral: pais contam para filhos, avós contam para netos, e assim por diante. Note-se que a forma original de transmissão da ação de Deus na história dá-se mediante a narrativa, ou seja, contar para as gerações seguintes o feitos do passado.

É verdade também que bastante cedo a necessidade de perpetuar o memorial da manifestação de Deus na vida e na história desse povo, faz-se real. É quando começa-se a escrever as narrativas que até então era contadas de uma geração à outra. Há que notar-se que a própria experiência de fé do indivíduo ou de determinado grupos contasse na compilação de determinados escritos, cite-se de passagem os salmos ou mesmo os livros sapienciais, em se tratando do Antigo Testamento. O Antigo Testamento embora esteja aparentemente ordenado de modo cronológico, segundo a distribuição dos eventos históricos, tal ordem, porém não delimita a datação de cada livro. Cada livro tem sua própria trajetória até a forma final – aquela que temos em mãos em nossos dias. De tal modo que podemos dizer que o processo de compilação da Bíblia acontece no arco de cerca de mil anos.

A pergunta que se nos resta: Como então a Sagrada Escritura chegou a sua forma final, aquela que temos hoje em mãos? A resposta não é simples, pois o processo até recebermos a Bíblia tal e qual temos hoje é um processo complexo. Contudo, podemos observar alguns pontos principais, que poderão iluminar outras reflexões e, quem sabe, até mesmo despertar o interesse pelo estudo da formação da Bíblia.

O Cânon das Escrituras (Kanon, do grego, varinha utilizada para medições, uma espécie de régua, em sentido literal, ou regra em sentido analógico) é algo afirmado solenemente no Concílio de Trento para toda a Igreja. A necessidade de tal afirmação definitiva deu-se a partir das agitações oriundas da Reforma Protestante (século XVI), onde os reformadores questionavam a inspiração dos livros escritos durante a diáspora grega e outros textos. Todavia a questão do Cânon é tão antiga quanto a Igreja – se podemos dizer assim –, para deixar claro que a Bíblia não é uma “invenção dos nossos tempos” como alguns podem pretender afirmar, partindo de um pensamento por nada ortodoxo.

Todos nós sabemos o quanto o cristianismo sofreu por causa da fé nos seus primeiros tempos, seja em relação às autoridades judaicas, seja em relação aos romanos. Contudo a fé pascal foi transmitida pelas primeiras gerações cristãs com verdadeira intrepidez. A geração apostólica transmitiu às futuras gerações e assim por diante. Muito cedo fez-se necessário a transmissão escrita de determinados conteúdos da fé pascal. O que os apóstolos e de modo especial, Paulo o fizeram através de cartas, que tinham por objetivo alimentar a fé das comunidades e das futuras gerações ao mesmo tempo que garantir sua retidão. Estes escritos refletem eloqüentemente a experiência e a força do encontro com o Ressuscitado. São uma teologia do evento pascal transmitida as comunidades primitivas. Quase paralelamente surge a igual necessidade de salvaguardar em modo escrito as palavras e ações realizadas por Jesus em sua vida terrena. Assim são compilados os Evangelhos. Sendo que os Atos dos Apóstolos, são narrativas das palavras e ações dos apóstolos e homens apostólicos, também relegadas às comunidades primitivas e futuras gerações cristãs. O livro do apocalipse segue um estilo particular, encontrando raízes no estilo profético do Antigo Testamento e visa consolar a animar a Igreja no tempo das perseguições.

Neste processo podemos destacar como agentes determinantes que levaram a escrita: a rápida expansão da fé cristã e o surgimento de novas Igrejas (a linguagem que usamos hoje, são dioceses), inclusive entre os pagãos; a necessidade da catequese; o desaparecimento dos apóstolos, enquanto testemunhas oculares; as ameaças de heresias; as perseguições e a necessidade de afirmar a fé, entre outras.

Como podemos perceber a compilação dos livros sagrados é um processo longo e complexo, na medida em que envolve tantos fatores, até chegarmos a forma final de cada livro da Bíblia que hoje temos em mãos. Para quem deseja um estudo mais aprofundado, é interessante iniciar por ler as introduções aos livros da Bíblia, propostas por bíblias de estudo como a de Jerusalém, a do Peregrino e a TEB (Tradução Ecumênica da Bíblia).

Voltando ao “cânon”, este termo em relação à Sagrada Escritura, quer dizer quais os livros que de fato comunicam a Palavra de Deus e são, por isso mesmo, inspirado pelo Espírito Santo. É importante observar que seja para o tempo do Antigo Testamento, seja para o do Novo, existe uma infinidade de outros livros que contém narrativas análogas àquelas contidas nos livros bíblicos, os quais, porém são chamados apócrifos, ou seja, não autênticos, a medida em que não atendem aos critérios propostos já na Igreja primitiva e, por isso, ficam “fora do cânon”. Com isso podemos observar que cânon também pode significar critério.

No caso dos livros da Bíblia os critérios utilizados foram de ordem interna e externa. De ordem interna: a inspiração pelo Espírito Santo, ou seja, estes livros contém de fato a Palavra de Deus revelada para a salvação dos homens, em outras palavras, são escritos vinculantes para a fé. De ordem externa: elementos que foram se definindo pela consuetudine das Igrejas: a origem apostólica, a ortodoxia, a antiguidade e o uso litúrgico. Estes elementos foram determinantes na delimitação do Cânon da Escritura. A origem apostólica, diz respeito ao apóstolo a quem é atribuído o escrito ou aos que chamamos ‘homens apostólicos’, que não pertenceram ao número dos doze, mas que tiveram uma íntima ligação com algum deles (Lucas, Marcos, ou para alguns escritos atribuídos à João, os seus discípulos que transmitiram seus ensinamentos fielmente). A ortodoxia refere-se à conformidade com as normas de fé e trata sobre a questão da retidão dos escritos e a sua identidade com aquilo que de fato provinha dos apóstolos e não causava estranheza ao que fora transmitido por estes. A antiguidade direciona para a autoridade das Igrejas, que tiveram sua origem nos apóstolos e às quais os escritos reclamam. Juntamente a antiguidade está o uso litúrgico. A leitura destes textos em determinadas Igrejas era ponto determinante para a aceitação pelas outras. Neste caso a grande referência para as outras Igrejas era a Igreja de Roma.

Partindo desses critérios fundamentais, encontramos muito cedo elencos de livros que se tornavam cada vez mais fixos quanto ao conteúdo e ao status eclesiástico.  Citamos o Fragmento Muratoriano e Melitão de Sardes, já no século II; Origenes, no século III; Atanásio, no século III, o mais antigo, que já consta de 27 livros para no Novo Testamento; Agostinho, século IV, que consta de 44 para o Antigo Testamento (= 46, incluindo Lm e Br em Jr). A autoridade de Agostinho o debate se encerra para o Ocidente sobre a extensão do cânon. Mais tarde na alta idade média o Concílio de Florença o propõe para toda a Igreja. Dada a dúvida sobre a obrigatoriedade da Bula emanada a Florença e a Reforma Protestante, será o Concílio de Trento a definir como vinculante para toda a Igreja e de modo definitivo e solene os 73 livros como “sagrados e canônicos (…) com todas as suas partes (…) e inspirados pelo Espírito Santo, incluindo os deuterocanônicos”. Mais tarde o Concílio Vaticano I, aprofundará a reflexão e dirá que a canonicidade implica que a Igreja reconhece a inspiração dos livros. O Concílio Vaticano II reafirmará tudo isso na Constituição Dogmática Dei Verbum, reconhecendo simultaneamente, cânon, Tradição e inspiração.

Assim as gerações cristãs receberam a Bíblia Sagrada ou a Sagrada Escritura que contém a Palavra de Deus escrita. E isso nós devemos à Sagrada Tradição, que deixou este legado para a Igreja de todos os tempos. Quando o Santo Padre, o Papa Bento XVI propõe uma hermenêutica canônica da Bíblia, é nada mais nada menos que nos lembrar que a Bíblia é dom para a Igreja e por isso só pode ser entendida nesta e através desta. Qualquer interpretação da Bíblia torna-se de certo modo incompleta na medida em que se descuida de todo seu nexo com a Tradição, enquanto vida da Igreja (Exortação Apostólica pós-Sinodal Verbum Domini, 57).

O TEMPO DA QUARESMA

 

  1. HISTÓRICO

O nome “Quaresma” ou “Quadragésima” já vem atestado por volta de 384 por Jerônimo para a cidade de Roma, fazendo referência ao número simbólico de 40, que na Escritura é utilizado para exprimir um intervalo de tempo dedicado à penitência e a preparação diante de um evento salvífico ou à revelação de Deus. Por exemplo: os 40 dias do Dilúvio (Gn 7,4ss); os 40 anos de Israel transcorridos no deserto (cf Ex 16,35); os quarenta dias e quarenta noites em que Moisés permaneceu na montanha do Sinai para receber os mandamentos de Deus (Ex 24, 18); os quarenta dias e quarenta noites em que o profeta Elias caminhou até a montanha do Horeb, nutrindo-se de pão e água que um anjo de Deus lhe dava (1Rs 19, 8). É, aliás, com relação a estes fatos que, desde os tempos mais antigos, a Igreja sempre lê no segundo Domingo da Quaresma o Evangelho da Transfiguração, no qual, ao lado de Cristo e dos apóstolos, aparecem as duas figuras do Antigo Testamento, Moisés e Elias; e também Jonas também que pregou na cidade de Nínive que ainda restava um prazo de quarenta dias para o povo se converter a Deus (Jn 3, 4).

Contudo, o exemplo decisivo foi dado pelo próprio Jesus: antes de inaugurar seu ministério público, ele jejuou no deserto durante quarenta dias e quarenta noites; foi, em seguida, tentado pelo demônio e o venceu. Não é, pois, sem fundamento que a Igreja, conforme sua tradição, proclama este Evangelho no primeiro domingo das Quaresma (cf Mt 4, 1-11; Mc 1, 12-15; Lc 4, 1-13). Por isso, durante o tempo dos santos quarenta dias, a Igreja jejua com Jesus e por causa dele. É esta a diferença entre a Quaresma e o Advento, que não é propriamente um tempo de jejum.

A primeira menção de um período de 40 dias de jejum se encontra na carta de Atanásio de Alexandria no ano de 334, que diz o seguinte: “Nós não podemos subir a Jerusalém para comer a Páscoa (ceia pascal) se não tivermos observado os quarenta dias de jejum!” (cf 6a Carta Pascal; PG 26, 1389). Ao fim do século IV encontramos uma referência em Etéria relativamente a Jerusalém: “Chegando os dias da Páscoa, são assim celebrados: como, entre nós, se guardam os quarenta dias que precedem a Páscoa, respeitam-se aqui, oito semanas. Guardam-se oito semanas porque não se jejua aos sábados e domingos, exceto em um único sábado – o das vigílias pascais no qual se deve jejuar; além desse dia, portanto, absolutamente nunca se jejua aqui, aos sábados, o ano todo. Assim, pois, descontando das oito semanas os oito domingos e sete sábados – já que é necessário jejuar num sábado como acima referi – sobram quarenta e um dias nos quais se jejua, e que aqui se chama eortae, isto é, Quaresma”. (Peregrinação 27,1) e para Milão encontramos Ambrósio.

Entre fins do século IV e inícios do século V a Quaresma já era geralmente conhecida e segue junto à transformação da vigília do Sábado Santo na grande celebração batismal e a institucionalização do catecumenato. A partir do V século a reconciliação dos pecadores públicos se concentrou ao fim da Quaresma. Toda a comunidade se uniu a estes dois grupos: aquele dos catecúmenos àquele dos penitentes, de modo a prepararem-se para a Páscoa através da penitência, o jejum, as práticas religiosas e as celebrações litúrgicas.

Por volta do final do século IV a quaresma iniciava-se a partir da contagem dos dias de jejum, ou seja, no sexto domingo que antecede a Páscoa. A imposição das cinzas, já na Escritura, considerada sinal de penitência, deu o nome a quarta-feira, neste período ainda limitada aos penitentes públicos, cada vez mais raros com a difusão da confissão auricular. Ao fim do XI século a distribuição das cinzas é estendida a todos os fiéis, prática que será recebida pelo Missal de 1570. No Missal de 1970 essa prática é reformada de modo que a distribuição não aconteça antes da missa, mas sim após a Liturgia da Palavra.

Sobre a Quarta-feira das Cinzas

Os fiéis que recebem as cinzas iniciam o tempo instituído para a sua purificação. Por este sinal de penitência, que vem já da tradição bíblica (cf 2Sm 13,19; Est 4,1; Jó 42,6; 1Mc 3,47; 4,39; Lm 2,10) e se tem mantido até nossos dias nos costumes da Igreja, é significada a condição do homem pecador; confessando exteriormente a sua culpa diante do Senhor, exprime assim a vontade de conversão, confiando em que o Senhor seja benigno e compassivo, para com ele, paciente e cheio de misericórdia. Por este mesmo sinal, enceta o caminho da conversão, cuja meta será atingida na celebração do sacramento da Penitência, nos dias anteriores à Páscoa (Cerimonial dos Bispos, 253).

Até o ano de 1969, antes da quarta-feira das cinzas existia ainda a “pré-quaresma” com os seus domingos, que em base ao modo arredondado de contar os dias de jejum, vinham chamados Quinquagésima, Sexagésima e Septuagésima.

O tempo quaresmal propriamente dito findava-se com o Domingo dito Domenica in Passioni Domini. Tal cesura vinha destacada pelo cobrimento da cruz e das imagens presentes das igrejas (com alusão ao trecho de Jo 8,59b, do evangelho do domingo, interpretado de modo alegórico, que invoca o “véu do jejum” para o “jejum dos olhos”). Tal prática será oficializada no século XVII. Após a reforma, o Missal de 1970 estabelece que tal prática, de velar as imagens, pode-se manter se as conferências episcopais são favoráveis a ela.

Atualmente o tempo da Quaresma se inicia com a Quarta-feira das Cinzas e finda-se com a Missa da Ceia do Senhor na Quinta-feira Santa. Os domingos da Quaresma vem respectivamente chamados I, II, III, IV e V; o VI por sua vez é chamado Domingo dos Ramos e a Paixão do Senhor, com ele inicia-se a Semana Santa. O IV domingo da Quaresma é chamado Domingo Laetare, ou domingo da alegria, dada proximidade da festa da Páscoa. O Domingo dos Ramos, visa celebrar o mistério da entrada triunfal de Nosso Senhor em Jerusalém, sua cidade. Ainda na missa da quinta-feira pela manhã (em alguns casos, por motivos pastorais, na quarta-feira a noite) o bispo juntamente com seu clero celebra a Missa dos Santos Óleos (ou do Crisma), onde são abençoados os óleos dos catecúmenos e dos enfermos e consagrado o óleo do Crisma.

O que diz o Concílio Vaticano II (SC 109-110)

Ponham-se em maior realce, tanto na Liturgia como na catequese litúrgica, os dois aspectos característicos do tempo quaresmal, que pretende, sobretudo através da recordação ou preparação do Batismo e pela Penitência, preparar os fiéis, que devem ouvir com mais frequência a Palavra de Deus e dar-se à oração com mais insistência, para a celebração do mistério pascal. Por isso:

  1. a) utilizem-se com mais abundância os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal e retomem-se, se parecer oportuno, elementos da antiga tradição [catecumenato, batismo no Sábado Santo, etc];
  2. b) o mesmo se diga dos elementos penitenciais. Quanto à catequese, inculque-se nos espíritos, de par com as consequências sociais do pecado [Campanha da Fraternidade], a natureza própria da penitência, que é detestação do pecado por ser ofensa de Deus; nem se deve esquecer a parte da Igreja na prática penitencial, nem deixar de recomendar a oração pelos pecadores.

A penitência quaresmal deve ser também externa e social, que não só interna e individual. Estimule-se a prática da penitência, adaptada ao nosso tempo, às possibilidades das diversas regiões e à condição de cada um dos fiéis. Recomendem-na as autoridades a que se refere o art. 22 (sobre a regulamentação da liturgia por parte das autoridades competentes e instituídas para tal).

Mantenha-se religiosamente o jejum pascal, que se deve observar em toda a parte na Sexta-feira da Paixão e Morte do Senhor e, se oportuno, estender-se também ao Sábado santo, para que os fiéis possam chegar à alegria da Ressurreição do Senhor com elevação e largueza de espírito.

 

  1. ESPIRITUALIDADE

É um tempo forte de preparação para a celebração da Páscoa anual. Sendo assim o Tempo da Quaresma deve ser entendido a partir do Tríduo Pascal. Neste tempo toda Igreja é chamada a se deixar purificar e renovar por Cristo. Por meio do anúncio do Evangelho, é exortada a conversão e a renovação, como se pode perceber desde a celebração das Cinzas: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. O destaque nesse tempo é a preparação para o Batismo (processo de reforma da Iniciação Cristã) e o caráter penitencial.

Este tempo, não é resíduo arqueológico de práticas ascéticas de outros tempos, mas é o tempo de experiência mais viva da participação no mistério pascal de Cristo. “Participamos dos seus sofrimentos para participarmos da sua glória” (Rm 8,17). Daqui brota a compreensão do caráter sacramental da quaresma: tempo em que Cristo purifica a Igreja, sua esposa (cf Ef 5,25-27). O destaque, portanto, não cai primeiramente sobre as práticas penitenciais isoladas, mas sim na ação purificadora e santificadora da graça de Deus. As práticas penitenciais são sinal visível da participação no mistério de Cristo, que, por nossa causa, se faz penitente recorrendo ao jejum no deserto. As práticas penitencias devem encontrar sentido no mistério de Cristo.

Por aí é importante perceber o caráter batismal deste tempo. A Igreja é comunidade pascal porque é batismal. Isso deve ser afirmado não só no sentido de que nela entramos através do batismo, mas, sobretudo no sentido de que a Igreja é chamada a exprimir com vida de continua conversão o sacramento que a gera. Dentro desta perspectiva, a prática da penitência, que não deve ser somente interior e individual, mas também externa e comunitária, caracteriza-se pelos seguintes aspectos: a. abominação do pecado como ofensa a Deus; b. consequências sociais do pecado; c. parte da Igreja na ação penitencial; d. oração pelos pecadores. Os meios de resposta: a. maior escuta da Palavra de Deus; b. oração mais intensa e prolongada; c. o jejum (as quartas e sextas, e, sobretudo na quarta-feira de Cinzas e na Sexta-Feira da Paixão do Senhor estendendo-se ao Sábado Santo); d. as obras de caridade (às quais se associam as obras missionárias, cf CIC 1438).

 

  • PRÁTICAS LITÚRGICAS DA QUARESMA

A cor litúrgica é o roxo e o rósea para o IV Domingo (Laetare). A cor marca o sentido de penitência e o caráter introspectivo do tempo. Cessa-se o Glória e o Aleluia, que, dado o caráter solene e festivo, retornarão na celebração da Páscoa. Nesse mesmo sentido os instrumentos musicais são moderados, ou seja, são usados apenas para sustentar o canto. Não se ornamenta o altar com flores (exceto no domingo Laetare – mesmo assim mantenha-se a moderação). Incentiva-se aos fiéis a participação na Paixão do Senhor através da celebração da Via-Sacra, preferencialmente as quartas e sextas-feiras.

Sobre a prática do jejum

As regras atuais da Igreja para o jejum, bem como para a Quaresma podem ser encontradas nos cânones 1249 a 1253 do Código de Direito Canônico, conforme transcrito abaixo:

Cân. 1249 – Todos os fiéis, cada qual a seu modo, estão obrigados por lei divina a fazer penitência; mas, para que todos sejam unidos mediante certa observância comum da penitência, são prescritos dias penitenciais, em que os fiéis se dediquem de modo especial à oração, façam obras de piedade e caridade, renunciem a si mesmos, cumprindo ainda mais fielmente as próprias obrigações e observando principalmente o jejum e a abstinência, de acordo com os cânones seguintes.

Cân. 1250 – Os dias e tempos penitenciais, em toda a Igreja, são todas as sextas-feiras do ano e o tempo da Quaresma.

Cân. 1251 – Observe-se a abstinência de carne ou de outro alimento, segundo as prescrições da Conferência dos Bispos, em todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; observem-se a abstinência e o jejum na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Cân. 1252 – Estão obrigados à lei da abstinência aqueles que tiverem completado catorze anos de idade; estão obrigados à lei do jejum todos os maiores de idade até os sessenta anos começados. Todavia, os pastores de almas e os pais cuidem que sejam formados para o genuíno sentido da penitência também os que não estão obrigados à lei do jejum e da abstinência, em razão da pouca idade.

Cân. 1253 – A Conferência dos Bispos pode determinar mais exatamente a observância do jejum e da abstinência, como também substituí-los total ou parcialmente, por outras formas de penitência, principalmente por obras de caridade e exercícios de piedade.

Em defesa do Cerco de Jericó – um instrumento de autêntica evangelização

Me lembro bem que no final da década de 90, já se preparando para o jubileu do ano 2000, quando difundiu-se Brasil afora o “sucesso” do Pe. Marcelo não foram poupadas as críticas ao sacerdote. Até que alguém teve o feliz discernimento de perceber toda aquela moção como um sinal dos tempos: – “Ora, o trabalho do Pe. Marcelo é como a acolhida na porta da igreja. Ele chama, a pessoa vem, mas do lado de dentro quem precisa continuar o trabalho são outros”. Verdade que depois do Pe. Marcelo, que não foi o precursor, vieram outros dos quais não se pode dizer o que se dizia do mesmo, pois é questionável se tais “ministérios” ligam mesmo à pessoa a Jesus Cristo e a Igreja ou à pessoa de quem os exerce. Não vem ao caso entrar agora por este caminho.

Estes dias estava lendo um destes sites católicos que fazem um bom trabalho de evangelização na internet e me deparei com uma crítica ferrenha a um movimento que tem ganhado forças em alguns lugares do país: o Cerco de Jericó. Gostaria de falar aqui do outro lado da moeda. E para falar com certo conhecimento de causa é importante conhecer um pouco as raízes de tal “movimento”.

Trata-se de uma inspiração bíblica, sem dúvida alguma. O episódio de Josué capítulo 6, no qual o povo hebreu para tomar posse da Terra Prometida precisa antes de tudo promover um cerco à cidade de muralhas inexpugnáveis que era Jericó. Interessante que em passagens como estas os “católicos pacifistas” vão se centrar justamente no aspecto da guerra, contestando assim – mesmo que de uma forma sutilmente adocicada a verdade das Escrituras. Ora, a grosso modo, o que importa prioritariamente num texto como este é a obediência a Deus e o seu poder em favor do seu povo. Estamos numa via de Revelação, não nos esqueçamos.

Além do mais, a Igreja nunca teve problema algum com o Antigo Testamento – que o digam as heresias já dos primeiros séculos que tendiam a violar a sua integridade extirpando os chamados textos ou episódios obscuros, ao que a Igreja jamais cedeu. Prova disto é a própria tradição orante cristã a qual nunca deixou de reconhecer um verdadeiro significado de combate – e neste caso é importante os textos que fazem alusão a tal combate, como é o caso de Jacó (Gn 33) e a batalha contra os amalecitas (Ex 17). Entre tantos outros.

Mais recentemente a história do Cerco de Jericó encontra ressonância na Polônia ao fim da década de 70. Todos sabem do regime comunista que vigorava nos países do leste europeu e da então chamada cortina de ferro. Período no qual é eleito sucessor de São Pedro, Karol Wojtila, o Papa São João Paulo II. Cujo uma das primeiras viagens apostólicas seria ao seu país natal. Para consternação da nação polonesa, o governo comunista não permitira tal visita do ilustre filho daquela terra. Muito rapidamente difundiu-se pela Polônia, partindo de Jasna Gora – Monte Claro, um movimento de oração ininterrupta do Santo Rosário de Nossa Senhora por uma semana inteira. Que para não chamar atenção das autoridades comunistas, acabou recebendo nome de Cerco de Jericó. No fim de tudo, em pouco tempo depois, o governo comunista dava permissão para entrada de João Paulo II na Polônia. Todos sabemos do papel indispensável do Pontífice para a queda de tal “muralha”, ou melhor, regime político.

Vejam bem que o Cerco de Jericó tem origem na oração do povo de Deus. Tal iniciativa, sem dúvida alguma difundida pela beleza do testemunho que lhe sucedeu, espalhou-se depressa pelo mundo a fora. E talvez no Brasil, seria o caso de estudar, teria sido apropriado e difundido pelo movimento carismático católico.

Hoje sabe-se que muitas paróquias e comunidades realizam durante o ano o Cerco de Jericó. Umas de um modo mais simples com poucas pessoas, outras de modo mais grandioso chegando até a milhares de pessoas. Toda crítica deve ser criteriosa e jamais generalizante, ao ponto de perder a credibilidade. Como dizia no início, minha intenção é fazer olhar o outro lado da moeda.

Antes de tudo, na minha paróquia temos realizado três Cercos de Jericó durante o ano pastoral. Os resultados são excelentes – a árvore se conhece pelos frutos. A equipe de voluntários, cerca de 200, na grande maioria integrada efetivamente em algumas pastoral ou movimento, trabalha arduamente desde a preparação até a avaliação geral após o evento, nas mais de 20 equipes organizadas. São 7 dias ininterruptos de oração para os quais existe uma escala onde toda paróquia se reveza e o “fio de ouro” desta semana é a Santa Missa entrelaçada do Santo Rosário. Deste modo é fomentada no coração dos fiéis as devoções eucarística, pela participação na Santa Missa e a adoração ao Santíssimo Sacramento exposto no altar os sete dias ininterruptamente, e mariana através da oração do Santo Rosário.

São duas devoções que abrem outras portas, dentre as quais a que possui “umbral de ouro” é a porta da conversão, notada unanimemente pelos padres que atendem as confissões durante toda semana. Sem contar os testemunhos de verdadeiras graças alcançadas durante uma semana como estas: estas graças são necessárias, pois trata-se de sinais da presença do Reino de Deus – caso contrário Nosso Senhor teria ficado só na pregação e não nos milagres durante seu ministério público. E a conversão estende-se pela vida paroquial afora: há sempre filas no confessionário, mais pessoas tem se juntado às pastorais e movimentos. Ah! E em nossa paróquia damos grande valor para as formações: desde a catequese sacramental até aquela permanente, a formação litúrgica e doutrinal – autenticamente católica.

Sobre os efeitos artísticos… temos um excelente ministério de música, nosso querido povo canta muito; há jovens empenhados nos meios de comunicação, sobretudo na internet: temos monitores, transmitimos vídeos antes das Missas; quando os jovens conseguem eles preparam uma ou outra encenação; há toque das trombetas e queima de fogos no fim da última noite. Nem por isso as rubricas litúrgicas são desrespeitadas, muito pelo contrário, são seguidas fielmente: o resultado é uma beleza que evangeliza.

Há quem estando de fora, não conhecendo evidentemente tudo que se passa, se arrogue o direito de criticar, questionar e depreciar. Muito interessante, pois acabam sendo os mesmos que fazem da chamada “busca pelos novos métodos” a última descoberta para a evangelização em nossos tempos. Mas que quando veem algo que eles mesmos acham “estranho” não perdem tempo em murmurar.

Falamos muito e fazemos pouco. Falamos que temos que sair, chamar de volta, acolher, usar novos métodos… E quando isso acontece causa estranheza e desperta as piores críticas possíveis! E quando o povo vem também causa estranheza… queremos que eles cheguem “teologizados” ou no mínimo “pensando como nós”. Isto é um erro! Que por conseguinte não nos deixa dar conta de que é necessário mais um passo, o laborioso trabalho de artista: a formação integral, paciente e esperançosa (é só lembrar de Nosso Senhor com os discípulos!). Não podemos descuidar deste lado da moeda, sob risco de sermos injustos com o Espírito Santo que age na Igreja e com as próprias necessidades dos tempos.

É uma grande alegria evangelizar!

Uma das primeiras palavras de Nosso Senhor quando inicia seu ministério público é: “Completou-se o tempo, e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Sobre a completude do tempo nos disse São Paulo com estas palavras: “Quando se completou o tempo Deus enviou seu Filho, nascido de mulher” (Gl 4,4).

Houve um caminho pedagógico desde a Criação do mundo e, sobretudo após a queda do primeiro casal (cf Gn 3), para preparar a salvação que Deus prometera realizar (Gn 3,15). A salvação do pecado, do mal e da morte que ferindo o homem desde dentro entraram no mundo. O homem deve se retirar do paraíso original, um sinal da perda da vida da graça a qual o pecado resulta. E se a vida da graça era paz, alegria e contemplação da face de Deus. A saída desta é resulta em caos, tristeza e perda da visão beatífica (basta perceber a tensão a qual o homem começa a viver ele e seus descendentes do capítulo 3 em diante do livro do Gênesis).

Certa vez ouvi de uma pessoa: “Dentro de nós existe um vazio do tamanho de Deus”. Eu era adolescente, e minha resposta foi esta: “Nossa! Mas que grande vazio…” E eu lembro bem deste episódio porque muito me marcou a resposta: “Pois é! E só Deus pode preencher este vazio!”

A busca desenfreada pelo prazer, pelos bens materiais e pelo poder – que condensam em si o pecado da humanidade – revelam também, de certo modo, o desejo do homem de suprir com aquele “vazio” que traz dentro de si. Vazio este que é nada menos que a saudade de Deus. E poderíamos perguntar, então porque nesta busca o pecado nos atrai, nos arrasta e nos arrasa? É que o pecado é resposta fácil, rápida e atraente. Mas é igualmente resposta enganosa, ardilosa e absolutamente insuficiente, por isso é traição, é ferida, é morte. O pecado faz enganosamente seguir a direção oposta de onde encontramos Deus novamente!

Por isso o primeiro anúncio de Nosso Senhor foi – poderíamos parafrasear assim: “Convertei-vos! Mudai o caminho! É hora de ir em direção a Deus!” Por isso que quando acolhemos verdadeiramente a Palavra de Deus o nosso coração se enche de alegria, de paz e de sentido da vida. O Evangelho nos recoloca no caminho, na direção certa.

Jesus Ressuscitado reafirmará uma vez mais: “Ide por todo mundo, pregai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16, 16). O batismo infunde todas as graças necessárias para que no caminho não nos falte os recursos necessários perante as exigências que forem surgindo. Acolher a Palavra é receber graça sobre graça, pois se o homem pecador precisa deixar o Paraíso e não encontra forças para retornar, senão uma grande saudade dentro de si, Deus traz o Paraíso ao homem dando-lhe condições de retornar ao que perdera: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).

Por isso na missão de evangelizar está presente um mistério de alegria, para quem recebe e para quem oferece. E aqui para quem ainda não a encontrou é preciso fazer esta experiência maravilhosa de acolhida da Boa Nova. E para quem já a encontrou é necessário o testemunho e o serviço. Tanto o evangelizador quando o que é evangelizado são envolvidos pela alegria do Evangelho.

E isto muito bem nos tem mostrado o Santo Padre o Papa Francisco e nos convidado incansavelmente a viver. Que este blog seja mais um espaço para vivermos e compartilharmos o Evangelho da alegria e a alegria de evangelizar!

Deus abençoe!